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Dividendos em queda: ainda vale apostar em ações de dividendos?

Nos últimos anos, ações conhecidas pelo pagamento generoso de dividendos conquistaram cada vez mais espaço nas carteiras dos investidores brasileiros. A busca por renda passiva, aliada a um cenário de juros historicamente baixos, impulsionou a popularidade dessa estratégia. No entanto, o mercado é dinâmico, e em 2024/2025 temos observado uma tendência que preocupa: a queda nas distribuições realizadas por muitas empresas.

Essa mudança levanta uma questão importante: será que ainda vale a pena apostar em ações de dividendos?
Será que a estratégia que já foi considerada uma das mais sólidas para construir patrimônio e gerar renda continua tão eficiente assim?

Neste artigo, vamos explorar as causas dessa queda, entender como ela impacta diferentes perfis de investidor e, principalmente, compartilhar minha visão prática sobre o tema — baseada na experiência do dia a dia assessorando investidores que buscam equilíbrio entre renda e crescimento.
Afinal, investir em ações que oferecem proventos ainda pode ser uma excelente estratégia — desde que feita de forma inteligente e adaptada ao novo cenário.


Por que os dividendos estão em queda?

Nos últimos anos, vários fatores se combinaram para pressionar a distribuição de dividendos pelas empresas brasileiras. Entender essas causas é fundamental para quem investe com foco em renda.

a) Cenário de juros em alta

Com a elevação da taxa Selic nos últimos ciclos econômicos, o custo de capital para as empresas aumentou. Muitas optaram por preservar caixa em vez de distribuir lucros.
Além disso, com juros mais altos, investimentos em renda fixa voltaram a competir de igual para igual com ações de dividendos, reduzindo a necessidade das empresas de manter taxas de payout elevadas para atrair investidores.

b) Mudança nos investimentos estratégicos das empresas

Empresas que tradicionalmente distribuíam dividendos começaram a focar mais em crescimento e reinvestimento. Setores como energia, saneamento e bancos vêm direcionando parte maior do lucro para projetos de expansão ou modernização, reduzindo a parcela destinada aos acionistas.

c) Mudanças regulatórias e tributárias

O ambiente regulatório também impacta. Discussões sobre taxação de dividendos e mudanças na tributação de lucros líquidos (como ocorreu com algumas medidas propostas pelo governo brasileiro nos últimos anos) geram incertezas. Algumas empresas preferiram reduzir proativamente seus dividendos como forma de se proteger de eventuais novas obrigações fiscais.

d) Setores mais afetados

  • Bancos: Pressionados por maiores provisões para inadimplência.
  • Elétricas: Cortes de dividendos para financiar expansão em energia renovável.
  • Siderurgia e mineração: Impacto da volatilidade dos preços de commodities.

Esses setores, tradicionalmente fortes pagadores de dividendos, agora exigem uma análise ainda mais cuidadosa.

Impacto da queda de dividendos nas estratégias de investimento

A queda na distribuição de proventos pelas empresas provoca impactos diretos e indiretos em diferentes estratégias de investimento. Para quem vive ou complementa renda com esses pagamentos, essa mudança exige ajustes importantes.

a) Estratégias de renda (dividend investing) impactadas

Investidores que seguem a filosofia de Investimento em Proventos — ou seja, focam em montar carteiras que proporcionam fluxo constante de renda — se veem obrigados a reavaliar suas escolhas.

  • Carteiras de Dividendos Tradicionais: ações como bancos e elétricas, que eram pilares dessas carteiras, podem perder atratividade se não conseguirem manter um payout competitivo.
  • Busca por novos setores: setores menos tradicionais, como agronegócio, petróleo e infraestrutura, surgem como alternativas para diversificação de renda.
  • Foco em empresas com histórico consistente: ainda mais importante agora é escolher companhias com políticas de dividendos bem definidas e capacidade de manter pagamentos mesmo em cenários adversos.

Na minha visão, o investidor de dividendos não deve abandonar sua estratégia, mas sim aprimorá-la — buscando qualidade, resiliência e diversificação em fontes de renda.


b) Efeito psicológico nos investidores: insegurança e fuga de capital

Dividendos regulares não são apenas fonte de renda — eles representam também sinal de estabilidade.
Quando os dividendos caem, muitos investidores:

  • Sentem insegurança sobre a saúde financeira da empresa.
  • Reavaliam o risco de permanecer acionistas.
  • Migram para alternativas como renda fixa ou fundos imobiliários.

Esse movimento pode pressionar ainda mais os preços das ações, criando uma espiral negativa, pelo menos no curto prazo.

A fuga de capital muitas vezes acontece de forma irracional. Entender o fundamento da empresa e separar o “barulho” do mercado é o que diferencia o investidor oportunista do investidor estratégico.


c) Mudança no perfil de risco das ações de dividendos

Com a incerteza sobre o pagamento de proventos, ações antes consideradas “conservadoras” passam a carregar risco adicional.

  • Beta dos ativos pode aumentar: isto é, as ações ficam mais voláteis em relação ao mercado.
  • Risco setorial: setores que dependem de regulação ou de grande necessidade de investimentos passam a ter seu risco reprecificado.
  • Reavaliação do preço justo: analistas ajustam modelos de valuation para refletir menor geração de caixa livre, impactando diretamente no preço-alvo das ações.

A ação que ontem era o “porto seguro” pode não ser mais hoje. O investidor precisa estar sempre preparado para reavaliar suas teses, sem apego emocional aos ativos.


Ainda vale a pena investir em ações de dividendos?

Com a queda dos dividendos em várias empresas e setores, surge a dúvida natural: ainda compensa apostar em ações focadas em renda?
A resposta — como quase tudo no mercado financeiro — depende de contexto, objetivos e perfil do investidor.

a) A importância dos dividendos no retorno total

Historicamente, os dividendos representaram uma parcela significativa do retorno total das ações no longo prazo. Em alguns estudos de mercados desenvolvidos, como o norte-americano, os dividendos chegam a compor 40% a 50% dos retornos totais ao longo de décadas.

  • Retornos sem dividendos seriam bem menores: é um erro analisar apenas a valorização do preço da ação.
  • Proventos reinvestidos amplificam o crescimento: o famoso efeito dos juros compostos.

Mesmo com oscilações pontuais, dividendos continuam sendo peça-chave para a construção de riqueza sólida a longo prazo.


b) Dividendos mais baixos não significam o fim da estratégia

É importante entender que uma queda nos proventos nem sempre é um sinal de fraqueza.

  • Empresas podem reduzir dividendos para investir em crescimento: isso, em muitos casos, gera mais valor no futuro.
  • Ciclos econômicos afetam payout: setores como energia e commodities vivem momentos de expansão e contração.
  • Gestão prudente: às vezes, segurar dividendos é melhor do que se endividar para pagar proventos.

O investidor inteligente enxerga além do curto prazo. Às vezes, aceitar um pagamento menor hoje é o preço para colher uma empresa mais forte amanhã.


c) Ajustando a estratégia para o novo cenário

Em vez de abandonar as ações de dividendos, o caminho pode ser ajustar a seleção e diversificação da carteira:

  • Buscar empresas com resiliência comprovada: setores menos cíclicos e com geração de caixa previsível.
  • Considerar dividendos globais: empresas fora do Brasil, especialmente em economias maduras, podem trazer novas oportunidades.
  • Olhar para dividendos sustentáveis, não apenas altos: yield muito alto pode ser um sinal de alerta, não de oportunidade.

Meu conselho: priorize qualidade e consistência. Um dividendo menor, mas seguro, é preferível a promessas tentadoras que não se sustentam.


O que observar ao escolher ações de dividendos no cenário atual

Num ambiente onde os dividendos estão sob pressão, a seleção de ações precisa ser ainda mais criteriosa. Não basta buscar apenas o maior dividend yield: é preciso avaliar a sustentabilidade dos pagamentos e a qualidade das empresas.

Aqui estão alguns pontos fundamentais para o investidor atento:


a) Payout Ratio: equilíbrio é fundamental

O payout ratio mostra a porcentagem do lucro líquido que a empresa distribui em dividendos. Um número muito alto pode indicar que a empresa não está retendo lucro suficiente para crescer ou enfrentar crises.

  • Ideal: empresas com payout saudável (entre 30% e 70% na maioria dos casos).
  • Atenção: payout acima de 90% pode ser insustentável no longo prazo.

Opinião pessoal: Prefira empresas que dividem o bolo de forma inteligente — e não aquelas que entregam tudo hoje, arriscando o futuro.


b) Histórico de pagamento de dividendos

Avaliar o histórico é essencial: empresas que pagam e aumentam dividendos consistentemente tendem a ser mais confiáveis.

  • Busque regularidade: empresas que mantêm ou crescem os dividendos em ciclos econômicos variados.
  • Fuja de cortes frequentes: eles podem sinalizar instabilidade.

Opinião pessoal: Uma boa prática é observar se a empresa manteve pagamentos até mesmo em momentos de crise, como em 2008 ou 2020.


c) Solidez financeira: caixa e endividamento

Antes de olhar o dividendo, olhe a saúde financeira:

  • Caixa robusto: empresas que geram caixa forte conseguem manter dividendos mesmo em períodos difíceis.
  • Endividamento controlado: muita dívida + juros altos = alto risco de corte nos dividendos.

Em tempos de juros altos, as vencedoras serão as empresas menos dependentes de financiamento.


d) Setores defensivos versus cíclicos

O setor onde a empresa atua faz toda a diferença:

  • Setores defensivos (energia elétrica, saneamento, alimentos): geralmente oferecem dividendos mais estáveis.
  • Setores cíclicos (commodities, varejo, construção): dividendos variam muito com a economia.

Para quem busca segurança de renda, uma exposição maior a setores defensivos ainda faz bastante sentido em 2025.


e) Valuation: cuidado com dividend yields “armadilha”

Um dividendo muito alto pode parecer tentador — mas muitas vezes reflete:

  • Problemas no negócio (queda do lucro).
  • Desconfiança do mercado (rebaixamentos de rating, riscos estruturais).

Por isso, analisar múltiplos como P/L, P/VPA e EV/EBITDA, além de fluxo de caixa, é essencial.

Prefiro yields médios de empresas sólidas do que “miragens” de dividendos que podem desaparecer da noite para o dia.


Exemplos práticos: setores e ações que podem se beneficiar (ou sofrer)

Ao observar o novo cenário de queda nos dividendos, é importante identificar quais setores e empresas tendem a ser mais resilientes e quais podem enfrentar dificuldades.

Vamos separar em dois grupos:


a) Setores mais resilientes (podem se beneficiar)

  • Energia elétrica e saneamento: Empresas com receitas reguladas e contratos de longo prazo tendem a manter dividendos estáveis, mesmo em momentos de pressão econômica. Exemplo prático: Taesa (TAEE11) e Engie Brasil (EGIE3) continuam como boas referências para quem busca renda.
  • Alimentos e bebidas: Consumo básico é menos afetado por ciclos econômicos. Empresas sólidas nesse setor tendem a manter pagamento de dividendos. Exemplo prático: Ambev (ABEV3) pode não ser a maior pagadora, mas mantém regularidade e resiliência.
  • Setor financeiro (bancos tradicionais): Apesar da pressão regulatória, bancos bem estruturados (como Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3)) seguem com alta geração de caixa e boa capacidade de distribuir dividendos.

Prefiro focar em empresas desses setores, priorizando resiliência a qualquer “vento contrário” que 2025 possa trazer.

Simulação feita no site Análise de Ações, na data 14/04/2025.

b) Setores que podem sofrer mais

  • Petrolíferas: Dependência dos preços das commodities pode gerar instabilidade nos lucros — e, por consequência, nos dividendos. Exemplo: Petrobras (PETR4) pode enfrentar mais volatilidade, especialmente se o preço do petróleo recuar.
  • Construção civil e varejo: Alta de juros encarece o crédito e diminui o consumo, impactando diretamente a rentabilidade dessas empresas. Exemplo: MRV (MRVE3) e Magazine Luiza (MGLU3) podem ver pressão não só nos lucros, mas também em eventuais cortes de dividendos.
  • Setor de commodities em geral: Metais e agricultura são altamente cíclicos — em momentos de queda de preço, os dividendos caem proporcionalmente.

Se ainda investir em setores cíclicos, prefira empresas com boa gestão de caixa e forte eficiência operacional.


Em vez de apenas olhar para o dividend yield, é fundamental analisar a capacidade real da empresa de gerar caixa e pagar dividendos de forma sustentável — especialmente agora.


Conclusão: dividendos em queda — ainda vale a pena?

Mesmo com a recente queda nos dividendos, as ações focadas em geração de renda continuam desempenhando um papel estratégico nas carteiras de investidores mais experientes.

É natural que em momentos de ajuste econômico e incertezas globais, os lucros das empresas sejam pressionados, afetando diretamente o valor distribuído aos acionistas. Porém, é justamente nestes ciclos que a seleção criteriosa de ativos faz a diferença.

Proventos não são garantidos, mas a disciplina na análise é.
Em vez de buscar apenas o maior yield do momento, o investidor inteligente deve observar:

  • Capacidade de geração de caixa.
  • Qualidade da gestão.
  • Resiliência do modelo de negócios.
  • Histórico de consistência na distribuição de proventos.

Prefiro, hoje, aumentar a exposição a empresas que conciliam previsibilidade de fluxo de caixa com crescimento sustentável, mesmo que isso implique aceitar pagamentos um pouco menores a curto prazo.

No longo prazo, esse posicionamento tende a ser mais vantajoso do que perseguir proventos elevados mas insustentáveis.

Se você quer montar uma carteira sólida, capaz de resistir a cenários desafiadores e ainda gerar renda passiva de forma consistente, acompanhe nossos conteúdos aqui no Investidor Eficiente.
Não se trata apenas de investir para hoje, mas de construir um patrimônio para a vida toda.

Deixe seu comentário abaixo: Você ainda aposta em ações de dividendos? Quais são suas estratégias em 2025? Quero saber sua opinião!

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