Investir em dólar em 2025: ainda vale a pena como proteção patrimonial?
Em tempos de incerteza, uma pergunta que volta com força nas conversas entre investidores é: “Ainda vale a pena investir em dólar?”. Essa dúvida faz parte da busca por segurança e preservação de patrimônio — algo natural, especialmente no Brasil, um país historicamente exposto à volatilidade econômica e cambial.
Ao longo das últimas décadas, o dólar consolidou-se como uma espécie de “porto seguro” para o investidor brasileiro. Seja para proteger o poder de compra em períodos de alta inflação, seja como defesa contra instabilidades políticas e econômicas internas, ele sempre esteve no radar de quem busca preservar valor a longo prazo.
Mas 2025 não é mais 2020. O mundo passou por choques importantes nos últimos anos: pandemia, guerras, mudanças na política monetária global, novas dinâmicas econômicas e geopolíticas. O investidor hoje precisa ir além dos velhos mantras e entender o cenário atual com profundidade.
Como assessor de investimentos, essa é uma das perguntas que mais escuto nos últimos meses. E a resposta, como em muitas questões financeiras, é: depende — do momento econômico, do perfil do investidor e, principalmente, da estratégia por trás da decisão.
Neste artigo, vamos analisar com profundidade se o dólar ainda é uma boa proteção em 2025, quais são os riscos e oportunidades envolvidos, e quando realmente faz sentido ter exposição à moeda americana.
Por que o dólar sempre foi visto como proteção?
A relação do brasileiro com o dólar é, no mínimo, simbiótica. Desde os tempos da hiperinflação nos anos 1980 e início dos anos 1990, a moeda americana passou a ser referência de estabilidade, funcionando quase como um “termômetro” da confiança na economia nacional. Quando a inflação disparava ou o governo emitia medidas controversas, o dólar subia — e isso se repetiu por décadas.
O dólar, nesse contexto, se tornou muito mais do que uma moeda estrangeira: ele virou sinônimo de proteção. E esse status foi construído com base em três pilares principais:
Estabilidade e confiança internacional
A economia dos Estados Unidos, apesar das suas próprias oscilações, ainda é considerada a mais segura e previsível do mundo. O dólar é a moeda mais utilizada em transações internacionais, representa mais de 58% das reservas cambiais globais segundo o FMI, e é aceito globalmente como reserva de valor.
Mesmo em crises globais, como a de 2008 ou a pandemia de 2020, investidores do mundo todo correram para ativos atrelados ao dólar, como títulos do Tesouro americano, considerados o porto seguro clássico em tempos de turbulência.
Proteção contra a inflação e desvalorização do real
Para o investidor brasileiro, a moeda americana sempre teve o papel de preservar o poder de compra diante de choques internos. Quando há risco fiscal, queda na confiança institucional ou expectativa de inflação, o real tende a se desvalorizar — e, com isso, o dólar se valoriza em relação à nossa moeda.
Por isso, investir em ativos atrelados ao dólar funcionava como uma espécie de seguro: enquanto seus investimentos em reais podiam perder poder de compra, a parte dolarizada da carteira se valorizava, compensando o impacto.
Diversificação geográfica e cambial
Outro ponto importante, embora menos compreendido pela maioria, é que investir em dólar é também investir em outra economia. Isso significa diversificar o risco político, tributário e econômico local. Ao expor parte do patrimônio a uma moeda forte, o investidor está diluindo sua dependência do cenário brasileiro.
Essa diversificação é ainda mais relevante para quem tem planos de morar fora, gastar em dólar (como viagens ou estudos) ou mesmo proteger o patrimônio para gerações futuras com maior liberdade geográfica.

O que mudou no cenário em 2025?
Apesar do dólar manter seu status de moeda forte e confiável, o contexto global e local em 2025 é diferente dos últimos anos. Após um período de grandes transformações econômicas e geopolíticas, o investidor precisa reavaliar com cuidado as motivações por trás da exposição cambial.
Aqui estão os principais pontos que mudaram — e que impactam diretamente a decisão de investir ou não em dólar neste momento:
A força do dólar não é mais unânime
Nos últimos anos, o dólar oscilou bastante. Após o fortalecimento acentuado durante os anos da pandemia e o início do ciclo de alta de juros nos EUA, a moeda americana passou a dar sinais de enfraquecimento relativo em 2024 e 2025, especialmente frente a outras moedas fortes como o euro e o iene.
Esse movimento é reflexo de uma reversão gradual na política monetária americana. O Federal Reserve (Fed) iniciou uma redução nos juros após o controle da inflação, o que diminui a atratividade de ativos denominados em dólar. Isso pode levar a um fluxo de capitais para outros mercados, reduzindo a demanda pela moeda.
O Brasil está mais atrativo para investidores
Ao mesmo tempo, o Brasil tem apresentado sinais de melhora no cenário econômico. A taxa Selic, mesmo com cortes recentes, ainda se mantém em patamar real positivo. O controle da inflação, o avanço de reformas e uma gestão fiscal mais equilibrada tornaram o país mais interessante para investidores estrangeiros, o que fortalece o real frente ao dólar.
Isso muda o jogo para o investidor brasileiro: com o real mais forte, investir em dólar pode deixar de ser uma proteção automática e passar a exigir uma leitura mais estratégica.
Cenário geopolítico global ainda traz incertezas
Por outro lado, o mundo segue enfrentando tensões que mantêm a demanda por ativos de proteção:
- A guerra entre Rússia e Ucrânia ainda gera impacto sobre mercados de energia e alimentos.
- Conflitos no Oriente Médio elevam o risco geopolítico e afetam o preço do petróleo.
- A disputa econômica entre China e EUA continua pressionando cadeias produtivas e gerando incertezas nos mercados emergentes.
Em um mundo cada vez mais multipolar e imprevisível, o dólar continua desempenhando seu papel como “moeda de refúgio” em momentos de estresse. Porém, ele não é mais a única alternativa viável, e sua eficiência como proteção depende do tipo de evento e da reação dos mercados.
A digitalização e os novos instrumentos de proteção
Outro ponto importante é o surgimento de novas formas de proteção patrimonial, como moedas digitais de bancos centrais (CBDCs), criptoativos lastreados em dólar e plataformas de investimento internacional mais acessíveis.
O investidor hoje não depende mais de manter dinheiro vivo em espécie, ou de operar em bancos no exterior: com corretoras brasileiras oferecendo acesso a ativos dolarizados, ficou mais fácil e barato diversificar — o que muda o perfil da proteção em si.
Em 2025, o cenário é mais complexo do que antes. O dólar ainda pode ser uma proteção, mas deixou de ser um movimento óbvio e automático. Agora, é preciso analisar contexto, taxas de juros, desempenho da economia brasileira e cenário internacional antes de tomar a decisão.
Vale a pena investir em dólar em 2025?
Essa é a pergunta que não sai da cabeça de muitos investidores — e, como assessor, você já deve ter ouvido inúmeras vezes:
“Com o dólar caindo… ainda compensa investir lá fora?”
“Mas e se o real se valorizar? Vou perder dinheiro?”
“É hora de sair ou de entrar no dólar?”
A resposta, como sempre, exige um pouco mais de nuance. Vamos destrinchar os principais pontos que devem ser considerados na tomada de decisão.
Câmbio: ainda há prêmio na conversão?
Em abril de 2025, o dólar está em um patamar considerado “neutro” por muitos analistas, com o real se mantendo estável ou levemente apreciado em relação ao ano anterior. Para quem pensa no dólar como proteção de longo prazo, isso pode representar uma boa oportunidade de entrada.
Por outro lado, para o investidor que pensa apenas no “timing do câmbio”, a chance de erro é grande. O câmbio é um dos ativos mais difíceis de prever, influenciado por múltiplos fatores, muitos deles incontroláveis. Tentar acertar o fundo ou o topo é arriscado — e frequentemente leva a decisões ruins.
Aqui entra a importância de ter uma estratégia clara e bem alinhada com seus objetivos.
Investir em dólar não é o mesmo que investir nos EUA
Um erro comum é confundir exposição cambial com exposição geográfica. Investir em dólar pode significar:
- Ter uma conta em moeda estrangeira.
- Comprar ativos dolarizados (fundos, ETFs, ações).
- Comprar ativos internacionais em mercados dolarizados (EUA, mas também América Latina, Ásia, Europa via ETFs).
Isso quer dizer que você pode investir em dólar sem necessariamente apostar no mercado americano — e vice-versa. Por isso, é importante separar o objetivo:
- Quer proteger o patrimônio contra desvalorização do real? A exposição cambial pode bastar.
- Quer investir na economia americana (ou internacional)? A escolha dos ativos importa ainda mais.
A exposição cambial pode ser uma faca de dois gumes
Embora o dólar possa proteger o poder de compra em momentos de crise, ele também pode trazer volatilidade desnecessária à carteira de um investidor mal posicionado.
Imagine o cenário:
- Um investidor compra dólar a R$ 5,50 em 2022.
- Em 2024 e 2025, o dólar cai para R$ 4,80.
- Mesmo que o ativo em dólar tenha valorizado 10%, a conversão para reais pode mostrar prejuízo ou rendimento abaixo do CDI.
Moral da história: só faz sentido investir em dólar com um horizonte de tempo mais longo e sem depender do câmbio para “lucrar rápido”. O objetivo principal deve ser a diversificação e proteção, não especulação.
Como investir em dólar em 2025: alternativas práticas
Atualmente, o investidor brasileiro tem diversas formas de acessar ativos dolarizados, sem precisar abrir conta no exterior (embora essa também seja uma opção válida para alguns perfis):
Alternativa | Vantagens | Cuidados |
---|---|---|
Fundos cambiais | Exposição direta ao dólar | Taxas de administração, volatilidade |
ETFs (como IVVB11, Dólar Futuro) | Liquidez, diversificação | Risco de câmbio, corretagem |
BDRs | Acesso a empresas americanas | Alvo de flutuação cambial e risco específico |
Fundos internacionais | Gestão profissional, diversificação | Leitura do portfólio nem sempre clara |
Conta internacional (global account) | Autonomia, liberdade de investimento | Complexidade tributária e custos |
E o investidor com patrimônio?
Para quem já tem um patrimônio consolidado, a exposição ao dólar passa a ser uma questão de preservação e sucessão. Pensar em dolarizar parte da carteira é proteger seu poder de compra global, reduzir a concentração em risco Brasil e, em alguns casos, até melhorar a eficiência tributária futura.
Quando faz sentido investir em dólar?
Dolarizar parte da carteira pode ser uma decisão estratégica poderosa — mas também pode ser uma armadilha, se feita sem propósito claro. A questão não é apenas “vale a pena?”, mas “vale a pena para quem, em que proporção e com qual objetivo?”
Aqui, vamos apresentar os principais perfis e situações em que a exposição ao dólar se justifica. E também quando ela não é prioridade.
Quando faz sentido:
Para quem já tem patrimônio consolidado
Investidores com patrimônio acima de R$ 500 mil ou R$ 1 milhão devem começar a pensar em diversificação geográfica e cambial. A exposição ao dólar ajuda a reduzir o risco sistêmico de manter 100% dos ativos em um único país — ainda mais em um país com histórico de volatilidade como o Brasil.
Para quem tem gastos ou planos internacionais
Se o investidor pretende viajar com frequência, financiar estudos no exterior (próprios ou dos filhos), fazer compras ou até mesmo viver fora, investir em dólar é uma forma de casar o investimento com o objetivo.
Além disso, dolarizar parte do patrimônio garante que o poder de compra em moeda estrangeira seja preservado — sem sustos com o câmbio.
Para proteção de longo prazo
O dólar pode ser usado como um hedge natural contra crises locais — especialmente políticas ou fiscais. Não é uma ferramenta de curto prazo, mas um componente estratégico que equilibra a carteira em momentos de estresse.
Para diversificação verdadeira
Investir em ações internacionais (via BDRs, ETFs ou fundos) permite acesso a setores e empresas que simplesmente não existem na bolsa brasileira: tecnologia, biotecnologia, inteligência artificial, semicondutores…
Esses ativos são precificados em dólar e adicionam valor à carteira não só pela moeda, mas pela natureza do negócio.
Quando não faz sentido:
Para quem não tem reserva de emergência ou organização financeira
Investir em dólar não substitui os fundamentos. Antes de dolarizar patrimônio, é essencial:
- Ter uma reserva sólida em reais;
- Ter clareza dos objetivos de curto, médio e longo prazo;
- Ter uma carteira estruturada, diversificada e ajustada ao perfil de risco.
Para tentar acertar o “timing” do câmbio
Dolarizar apenas porque o dólar “caiu muito” ou “vai subir” é pura especulação — e normalmente leva a decisões emocionais. O objetivo de proteção se perde quando o foco vira rentabilidade cambial no curto prazo.
Para concentrar risco no exterior sem entender o que está fazendo
O mercado americano também tem riscos. Se o investidor não entende o que está comprando, pode se expor de forma desequilibrada e acabar sofrendo mais do que se tivesse mantido uma carteira simples e bem montada no Brasil.
Como encontrar o equilíbrio
Uma exposição entre 10% e 30% do patrimônio em ativos dolarizados costuma ser suficiente para investidores com perfil moderado a arrojado — desde que os objetivos estejam bem definidos.
Posicionamento como Assessor:
“Minha função não é te dizer se o dólar vai subir ou cair amanhã. É garantir que, qualquer que seja o cenário, seu patrimônio esteja protegido e bem alocado para o longo prazo.”
Conclusão: Investir em dólar em 2025 ainda é uma boa proteção?
Depende da estratégia. O dólar continua sendo uma ferramenta poderosa de proteção, diversificação e acesso a novas oportunidades. Mas em 2025, o contexto exige mais análise, mais estratégia e menos impulso.
Ele não é mais o porto seguro automático que foi no passado — e isso é positivo: significa que o investidor brasileiro tem hoje mais ferramentas, mais estabilidade local e mais liberdade para escolher onde e como investir.
Se você já tem um patrimônio consolidado, tem planos internacionais ou simplesmente quer construir uma carteira mais robusta e preparada para qualquer cenário, dolarizar parte da carteira ainda faz todo o sentido.
Mas se você busca rentabilidade imediata, aposta em movimentos de curto prazo ou ainda não tem sua base bem estruturada… talvez a exposição ao dólar possa esperar.
Quer entender se dolarizar parte da sua carteira faz sentido para você?
Entre em contato comigo e vamos conversar.
Com uma análise individual, podemos construir uma carteira que realmente faça sentido para o seu momento, seus objetivos e seu perfil.
FAQ: Investir em dólar
1. Qual a diferença entre investir em dólar e comprar dólar?
Comprar dólar significa trocar reais por moeda americana — geralmente em espécie ou via conta internacional. Já investir em dólar é ter exposição a ativos atrelados à variação cambial ou que estão cotados em dólar, como fundos cambiais, ETFs, BDRs e ações internacionais.
2. Posso perder dinheiro investindo em dólar?
Sim. Se o real se valorizar ou se o ativo em dólar tiver uma performance negativa, o investidor pode perder parte do valor investido. Além disso, há riscos de mercado, de juros e setoriais que afetam os ativos internacionais.
3. É melhor investir em dólar ou deixar o dinheiro no Brasil?
Depende dos seus objetivos. O ideal não é escolher um ou outro, mas sim equilibrar. Investir 100% no Brasil traz concentração de risco. Já ter parte em dólar pode ajudar a proteger e diversificar seu patrimônio.
4. Qual a forma mais simples de começar a investir em dólar?
Hoje, a maneira mais acessível é via ETFs como o IVVB11, fundos cambiais de grandes gestoras ou contas internacionais oferecidas por corretoras e bancos digitais. Não exige abrir conta no exterior nem entender inglês técnico para investir.
5. É preciso declarar os investimentos em dólar no Imposto de Renda?
Sim. Todo ativo internacional ou atrelado ao dólar precisa ser declarado, seja via fundo, ETF, BDR ou conta internacional. Os lucros em vendas também podem gerar imposto, então é essencial manter o controle e, se possível, contar com apoio de um contador.
6. Qual é o impacto da política americana no dólar?
As decisões do Fed (o banco central dos EUA), como alterações nos juros, impactam diretamente o valor do dólar no mundo. Além disso, eleições presidenciais e conflitos geopolíticos também afetam o apetite por dólar como ativo de proteção global.
7. Investir em dólar é só para grandes investidores?
Não. Hoje é possível começar com valores baixos via fundos e ETFs disponíveis na B3. O mais importante é que o investimento esteja dentro de um plano coerente — mesmo com pouco, dá pra começar com estratégia.
8. Existe “melhor época” para investir em dólar?
Tentar acertar o “melhor momento” pode ser arriscado. Como o câmbio é volátil, a estratégia mais prudente é investir aos poucos (famoso dólar-cost averaging) e com visão de longo prazo, pensando em proteção e não em especulação.